domingo, 27 de outubro de 2013

Correr atrás do rabo


O caminho que ninguém deveria fazer é este que faz geralmente um cão quando tenta entender sua existencialidade: ‘ O porquê de ser sempre perseguido seja lá a direção que tome em sua vida. ’ Esta é a lógica do cachorro, tanto é que quando não tem uma roda de carro, um pedal de bicicleta ou o traseiro de outro amigo canino para sair atrás, resolve sair às voltas e no maior alarido a buscar este seu arqui-inimigo  e eterno perseguidor: o próprio rabo.
Parece que nós os humanos somos um pouco assim. Vez por outra nos colocamos neste brete em que não vemos saídas e como toda conjectura nos leva à conclusão de que somos as  eternas e inocentes vítimas; os maiores perseguidos de toda humanidade,  então começamos o nosso muro de lamentos acudindo aos céus por justiça e com toda certeza disparamos a correr atrás de nossas infelicidades e injustiças feitas a nós, é claro. Assumimos esta postura de correr atrás do próprio rabo, ou melhor; do próprio Ego, de tal maneira que tudo o mais que passe ao nosso redor deixe de existir a não ser um enorme buraco no qual nos metemos dentro e a única visão que temos é nosso dito cujo problema visto de maneira unilateral. E este poço é tão grande que palavras de outros soam como a voz enganosa das sereias ou Delfos de um perdido sonho mitológico no qual não acreditamos jamais. Somente nele, ou melhor, nosso Ego.
 Aí encontramos aquelas pessoas que não saem à rua por n motivos, não se olham no espelho por outras x desculpas. Choram dias a fio sentindo-se as piores vítimas. Sem consolo começam a não prestar atenção no mundo lá fora, fora delas mesmo quero dizer. O sol sai; a lua brilha; a chuva cai; as flores desabrocham; frutos maduram; praia, festa e dentro delas o tempo é sempre o mesmo: nuvens de tempestade, raios, trovões e um ar pantanoso de filme de terror. Até que um dia uma destas aranhas tecedeiras de pensamentos e de sonhos brumosos, deixa cair um ponto de seu tecido e uma nesguinha de luz consegue passar e por um ponto e vírgula nesta história de lamentos sem ponto, nem reticências. Um olho a vê, o outro segue o primeiro e a curiosidade de ver o que está passando, leva-as a deixar um pouquinho as queixas na gaveta do armário das lamentações e com dificuldades abre a cortina.
Assim pode começar sua recuperação e irá correr atrás de outra roda, outro pedal de bicicleta outro rabo que passe, que não seja o próprio, e começa a correr em linha reta outras vez os caminhos da vida.
Então seja ou não seja feliz seu dia, creia que lá fora, de você, sempre estará a oportunidade de ver despontar outra estrela num céu escuro. Nunca tenha medo de dar o primeiro passo, ainda que tropece, pior é não arriscar-se a dar passo algum.
IsiCaruso
16-10-13



Um comentário:

Zuleica disse...

Lindo!